Medos e desejos

13/05/2014

Dois anos depois de lançarBicicletas, bolos e outras alegrias (2010), Vanessa da Mata começou a desenharum novo disco e compor as primeiras ideias de música. O projeto teve que serinterrompido por conta do convite da Nívea para realizar alguns shows cantandoTom Jobim (1927 – 1994). A homenagem se tornou maior que o esperado e rendeumais apresentações e um disco de estúdio. Nele, a cantora dava um banho pop eindie para joias da bossa nova, como “Caminhos cruzados” e “Chovendo naroseira”.

Encerrada a temporada nofinal de 2013, Vanessa voltou aos rabiscos que vinha traçando e prosseguiu como projeto de inéditas que tinha na cabeça. Inicialmente, a cantora desconfiouda qualidade do material, mas foi convencida por Alexandre Kassin e Liminha,produtores que a acompanham desde a estreia, de que as novas composiçõesestavam boas o suficiente para serem lançadas. Compôs mais algumas, e estavapronto Segue o som, sétimo disco da mato-grossense lançado pela Sony Music.

Revelada no começo da décadapassada com uma leva de cantoras de voz grave, Vanessa da Mata chamou a atençãopelo oposto. A voz aguda e a feminilidade latente se tornaram marcasregistradas que iam na contramão das colegas de geração.

Discurso politizado

Em Segue o som, a beleza dacantora está estampada no sorriso vermelho da capa. No entanto, curiosamente,ele entra em conflito com as situações colocadas no disco. Violência, medo,injustiça e o distanciamento entre as pessoas são os assuntos abordados porVanessa da Mata. Destaque para a contundência que parece se perder no meio docaminho. O reggae “Toda humanidade veio de uma mulher”, por exemplo, sugere umabandeira feminista, mas encerra sem dizer muita coisa.

Sem medo de parecer ingênuo,esse discurso politizado tenta ficar mais objetivo em faixas como “Ninguém éigual a ninguém”: “O mundo capital, o

marketing

da aparência superficial, acontramão do amor puro, o fast-fode o jato do alívio”, descreve a cantora comopossíveis causas da falta de amor no mundo. Com toques de Bob Marley, o reggae“Homem invisível no mundo invisível” é ainda mais amarga: “Vejo o mundo inteironuma espécie tosca de carrossel. Cada lugar um bicho, corrida maluca pra pagaro aluguel”, avalia.

As dificuldades da vidatambém servem de base para o sambajazz “Rebola nêga”, que tem um quê de ElzaSoares. Até mesmo o amor, estampado em faixas como “Não sei dizer adeus” ou“Desejos e medos”, aparece sob tons melancólicos. As exceções ficam para areleitura de “Sunshine on my shoulders” e “Por onde ando tenho você”.

Os altos e baixos do novorepertório acabam sendo salvos pelo trabalho pop dos produtores e pela atuaçãode músicos como Marcelo Jeneci, Lincoln Olivetti e Fernando Catatau. Com eles,o disco ganha momentos gostosos, como “Homem preto”, feita para o avô da artista.

 

SERVIÇO

 

Segue o som, disco novo deVanessa da Mata

Gravadora: Sony Music

Número de faixas: 14

Preço médio: R$ 24,90  

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